segunda-feira, 12 de abril de 2010

Cap. II - O Homem Sem Face


Sebastian chega a Dorshire seguindo os sonhos de N'Longa. Fica surpreendido quando encontra Jérôme e Elena. Reconhece-os imediatamente, já que N'Longa lhe falara de outros errantes e os dois haviam surgido por várias vezes nos seus sonhos. Mas seriam apenas sonhos? Jérôme e Elena confirmam que não. Havia magia envolvida e algo mais. Sebastian fica a saber da demanda pelas jóias do poder e do antigo Mal que surgiria e que haveriam de combater. Por ora, está disposto a abandonar a sua sede de vingança e a seguir os seus dois novos companheiros. Elena, impaciente por partir, ignora os seus ferimentos. Não pretende ficar muito tempo no mesmo local com medo de ser reconhecida. E, numa manhã fria de Janeiro de 1610, os três companheiros fazem-se à estrada em direcção a Londres, onde esperam encontrar informações sobre os artefactos.

O ar é frio e cortante e o céu carregado de grossas nuvens negras. Os aventureiros atravessam uma floresta densa e húmida quando ouvem os pedidos de socorro de uma mulher abafados pelo rugir de um rio em fúria. Acorrendo ao local, vêem uma jovem agarrada a uma rocha, quase sem forças, e fustigada pelas águas gélidas. Tentara, sem dúvida, atravessar o vau mas as águas inchadas pelas recentes chuvadas arrastaram-na. Sem hesitar, Sebastian larga os seus pertences e atira-se ao rio, salvando a rapariga. Trémula mas agradecida, a rapariga arrepende-se da sua decisão impensada. Chama-se Liliana Knight e pede aos aventureiros que a acompanhem até à aldeia mais próxima, para protecção contra os bandidos das estradas. Confidencia que teme alguém que a persegue mas cujo nome teme pronunciar. Esse alguém é responsável por uma maldição que a aflige. Liliana está a definhar lentamente até à morte.

Os aventureiros percorrem agora uma estrada solitária, serpenteando por um arvoredo, quando dois homens, de grossas botas e capas, empunhando espadas e pistolas os interpelam. Ordenam que lhes entreguem a rapariga em troca da sua vida. Como os aventureiros recusam, um dos homens gesticula. Escondidos nos arbustos, estão outros dois homens, um de cada lado da estrada, empunhando pistolas. Jérôme desembainha o seu espadim e a main gaunche, correndo para a direita da estrada. Sebastian intercepta o homem à sua esquerda, com um machado e Elena corre junto de Jérôme enquanto Lilliana se protege atrás de uma árvore. Os bandidos tentam apanhar a rapariga mas caem perante a fúria dos golpes dos aventureiros. Sebastian abre a cabeça de um espalhando os seus miolos e sangue. Um dos bandidos defende-se da investida de Jérôme disparando a sua pistola mas falha o alvo. Elena abre o peito de outro com uma estocada. Num ápice, todos os bandidos estão caídos e Lilliana incólume.

Dois dos bandidos estão apenas feridos e quando interrogados, não sabem dizer a identidade de quem lhes pagou para levar a rapariga. Apenas que é um corcunda, escondendo a face com uma márcara de serrapilheira e uma voz arrastada. Os bandidos deveriam levar a rapariga ao cemitério da aldeia seguinte, à noite, onde ela seria entregue ao homem. Jérôme recusa-se a matar os homens, apesar da insistência de Lilliana. Matar homens desarmados e feridos é um acto de cobardia. Como tal, liberta-os e ordena-lhes que levem os seus companheiros mortos e desapareçam. Lilliana, assustada, revela que o homem sem face é o seu irmão, Fergus, que a quer morta e o causador da maldição. Perante esta revelação, os aventureiros interrogam-se que mais Lilliana lhes terá omitido. Jérôme, no entanto, já jurara levar a rapariga até à próxima aldeia: Thornwich. Aí, os aventureiros e Lilliana providenciam quartos n'O Galo Cantante, a única estalagem. Ninguém reconhece os nomes de Lilliana e Fergus Knight, nem reconhecem qualquer dos bandidos pela descrição. O único evento digno de discussão foi o enforcamento de um assassino que ainda se encontra pendurado no cadafalso, no centro da aldeia, e cuja execução fora espectáculo público. Decidem, então, aguardar pela noite, altura em que planeiam visitar o cemitério e esperar por Fergus.

A noite é escura com a lua escondida pelas nuvens. Um silêncio pesado cai sobre a aldeia. Uma porta range na estalagem. Sebastian apercebe-se do movimento e alerta Jérôme. Lilliana esgueira-se furtivamente do seu quarto e sai para o largo central da aldeia. Dirigindo-se ao cadafalso, ajoelha-se e desenterra algo do solo húmido. Apesar da distância e do negrume, Jérôme e Sebastian distinguem-se algo que se agita na mão da rapariga. Parece ser uma planta mas com uma forma toscamente humana, debatendo-se em vão. Lilliana retira uma faca e corta a "cabeça" da planta. Guarda-a na sua bolsa. Regressando à estalagem, é surpreendida pelos dois. Imediatamente revela que a sua doença mortal requer a ingestão de uma poção cujo um dos ingredientes é uma raiz de madrágora, raiz de planta rara que cresce em solo onde alguém é enforcado. Jérôme e Sebastian não sabem dizer se a rapariga fala verdade. Até agora tudo o que ela tem proferido têm sido meias-verdades e omissões. Com que intuito?

Ainda os dois aventureiros ponderam o que fazer, quando um trotear de um cavalo corta o silêncio da noite. Cuspido pelo negrume, surge uma figura bizarra. Um corcunda montado num cavalo negro. As suas vestes negras e capa esvoaçante, com a cabeça coberta por uma máscara de serrapilheira, fá-lo parecer um demónio saído do Inferno. A sua forma deformada mistura-se com a do cavalo numa mancha negra disforme e fantasmagórico. Atrás de si, surgem os dois bandidos poupados pelos aventureiros, de mosquetes prontos a disparar. Com uma voz arrastada como se a língua fosse demasiado inchada para a boca, ordena que a rapariga saia da estalagem. Lilliana roga aos aventureiros que a protejam. Elena, agora acordada pela comoção, corre até aos companheiros.

Fergus exige que a irmã lhe revele o segredo para recuperar a forma sã do corpo. Revela aos aventureiros que ambos criaram uma poção da imortalidade mas enquanto Lilliana conseguiu distilar a fórmula para manter o seu corpo são e jovem, guardou segredo. O corpo de Fergus continua a definhar e a envelhecer embora a morte nunca o leve. Fergus garante que a irmã é uma pessoa odiosa e que os aventureiros poderão partir em troca dela. Lilliana garante que não sabe como curar o corpo deformado do irmão. Indecisos, os aventureiros decidem proteger Lilliana. Fergus decide chamar a si ajuda. Os dois bandido protegem-se com o cadafalso esperando que os aventureiros saiam da estalagem. Jérôme consegue correr para o centro do largo, protegendo-se por detrás de um poço. Na escuridão todos os vultos são indistintos. As chamas das mechas dos mosquetes flutuam como vagalumes. Mas algo mais se move no negrume.

Lenta e impiedosamente, um grupo de figuras arrasta-se para junto de Fergus. Os aventureiros reconhecem os bandidos mortos na estrada. Mas que magia negra é responsável por este horror? Fergus gesticula algo e instintivamente os aventureiros sabem que ele é o responsável pelo regresso dos mortos. Sem hesitar, Sebastian dispara mas a sua pistola encrava. Jérôme dispara também, atingindo-o no ombro e investe sobre os bandidos junto ao cadafalso mas estes antecipam a sua manobra e disparam, falhando o alvo. De súbito, Jérôme vê-se cercado pelos mortos que o tentam derrubar por terra. Para se poder defender, o espadachim larga a sua pistola e desembainha as suas armas. Com os dois distraídos, Fergus fustiga o cavalo para a estalagem ao encontro da irmã, mas Elena salta por uma janela pronta a atacar. O seu tiro falha o alvo e Fergus corre para o interior gritando por Lilliana. Sebastian acorre em sua ajuda. Com um tremendo golpe do seu machado, atinge Fergus nas costas derrubando-o. Cobardemente, os dois bandidos decidem fugir não sem antes disparar, desesperadamente, uma última vez contra Jérôme. A sorte favorece-os. Um tiro certeiro atinge-o no estômago. Uma dor lacinante trespassa-lhe o corpo e Jérôme sente a visão turvar-se. Lilliana corre para o exterior e antes que o pior aconteça gesticula no ar. As criaturas detêm-se e os seus corpos desintegram-se, como areia arrastada pelo vento.

Finalmente, Fergus é levado para a cadeia. Lilliana, eternamente agradecida, revela que o seu tutor em Londres, um alchimista e mago, poderá saber algo sobre as jóias do poder que os aventureiros procuram. Por ora, Jérôme decide descansar para recuperar dos seus severos ferimentos.

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