sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Abominável Dr. Cortez


Desta feita, Jérôme d'Alembert viaja por terras de Espanha na companhia de Sérgio Lázaro, um jovem médico Judeu, e Nathaniel Hawthorn, um nobre Inglês. Na primeira aldeia onde pernoitaram, os três viajantes ouvem falar dos roubos nos cemitérios. Desde há algumas noites a esta parte, as campas da pequena aldeia de Las Cruces têm sido profanadas durante a noite. Os responsáveis ainda andam a monte e as opiniões dividem-se se serão apenas ladrões de cadáveres ou um necromante. O apelo do mistério é demasiado forte para os heróis que se propõem seguir até Las Cruces para resolver o caso.

A viagem é relativamente rápida e sem incidentes. Las Cruces é uma pequena aldeia cujos edifícios mais proeminentes são a igreja e a pequena taberna que serve de ponto de encontro aos aldeões, que aproveitam para descansar depois de um dia cansativo de lavoura e pastoreio. É aí que os heróis encontram os dois coveiros do cemitério. Trocam sussurros amedrontados entre si. A ar está frio e não estão com grande vontade em passar a noite ao relento no cemitério, mesmo que tenham sido escolhidos para apanhar os responsáveis pelas profanações das campas. Segundo eles, sabe-se lá o que se pode encontrar durante a noite, em tal local. Os heróis oferecem-se para os acompanhar.

O pequeno cemitério fica por detrás da igreja. A noite está escura e as silhuetas fantasmagóricas dos edifícios parecem ampliadas pelas sombras. Mais adiante, os heróis apercebem-se do brilho de lanternas que flutuam sobre as campas como espectros. Aproximando-se cuidadosamente, vislumbram um grupo de 4 homens, abrindo uma das campas. São sem dúvida os ladrões de cadáveres. Os dois coveiros encolhem-se de medo. Inútil confiar neles. Os heróis abrem a cancela do cemitério e corajosamente avançam sobre o grupo. Apercebendo-se que não estão sós, os ladrões entram em debandada. Inicia-se então uma perseguição na noite.

Quando encurralados, os ladrões recusam-se a depôr as armas sabendo que o castigo por um crime tão hediondo é a morte. Sérgio não tem outra opção senão defender-se. Nathaniel acorre ao companheiro e com um golpe certeira deita um por terra. Sérgio aproveita a distracção dos outros e consegue colocar os seus braços à volta de um, subjugando-o. Os dois ladrões tentam libertar o seu amigo. Para horror de Sérgio, Nathaniel corta, a sangue frio, o pescoço daquele que já estava por terra. Este lapso momentâneo causado pela repulsa leva-o a soltar o ladrão mas Jérôme, o último a chegar ao local, deita um segundo por terra. Sérgio recompõe-se rapidamente e consegue segurar no ladrão que deixara escapar. Jérôme ajuda-o a subjugá-lo. O quarto ladrão apercebe-se do mesmo destino e rende-se, implorando por misericórdia.

Sedento de sangue, Nathaniel prepara-se para matar os dois ladrões subjugados. Jérôme impede-o mas, pressentindo que o inglês não se deixa convencer, aponta-lhe uma pistola e ameaça-o. Porque razão deixá-los viver, racionaliza Nathaniel, se a forca é o que a justiça lhes reserva. Nem assim os seus companheiros se deixam persuadir. Mordendo o lábio, e o orgulho, Nathaniel aceita a situação. Para além disso, é preferível interrogar um dos ladrões para saberem que destino iriam dar aos cadáveres.

Arrastam os ladrões para um celeiro, longe dos olhares curiosos, e aí ameaçam o que ainda está consciente. O homem parece bastante simplório. Diz ser apenas um homem de família que precisava do dinheiro. Quem lhes paga é um homem chamado Cortez que vive na charneca. Os heróis decidem tirar tudo a limpo e visitar o homem para inquirir quanto aos cadáveres. Aos ladrões, deixam-nos partir pois compreendem que, apesar de tudo, são homens que vivem tempos de miséria e a quem a falta de dinheiro para alimentar a família serve de engodo a homens que se aproveitam das fraquezas humanas. Os coveiros que agora ganharam coragem para acompanhar os heróis reconhecem o nome do Dr. Cortez, médico muito acarinhado pelos aldeões.

A casa do médica fica isolada numa charneca a norte da aldeia. É um edifício baixo, rectangular e simples com uma chaminé. Não se vê vivalmente nem qualquer luz. Os heróis espreitam pelas janelas mas os batentes de madeira estão fechados. Decidem então arrombar a porta, esperando apanhar de surpresa os habitantes. Com um estrondo ensurdecedor, entram na sala de estar iluminada apenas por uma lareira. Nesse instante, abre-se a porta do outro lado da sala e surge um homem de meia idade, cabelos grisalhos e olhar alucinado. Aparentamente delirante, o homem grita tresloucado: "Finalmente mostrei a todos como estavam enganados! A morte não é o fim!" Antes de poder terminar, um braço cinzento agarra-o pelo pescoço e arrasta-o para dentro do quarto de onde saira. A porta fecha-se com um estrondo e os heróis conseguem ouvir gritos de terror e sons de luta. Antes que possam reagir, a porta abre-se de novo e uma criatura horrenda salta do interior.

A coisa parece ser uma mulher criada a partir de vários pedaços de corpos, toscamente cosidos. A pele cinzenta e odor fétido sugerem que são pedaços de cadáveres. Sérgio empurra a mesa da sala contra ela, mas a criatura parte-a com as mãos nuas. Nathaniel afasta-se para um canto aproveitando a distracção dos seus companheiros. Jérôme agarra num tição da lareira, suspeitando que possa pegar fogo à criatura mas os seus golpes são em vão. Apercebem-se então que Nathaniel queima uns pós coloridos numa vela enquanto entoa um cântico. Poderá ser? Um feiticeiro entre eles?

A criatura vacila quando sente o seu vigor esvair-se. A golpes de espada os heróis conseguem empurrá-la para dentro do quarto onde, para seu horror, vêm o doutor morto numa poça do seu próprio sangue, com o pescoço num ângulo impossível. O rasto de destruição é total, com móveis partidos, espalhados pelo quarto. Jérôme e Sérgio conseguem encurralar a criatura enquanto Nathaniel prepara um outro feitiço. Sabendo que o seu amigo luta melhor com duas lâminas que com uma, Sérgio corre para a main gauche de Jérôme que ele largara na sala para agarrar no tição e atira-a ao amigo. Nathaniel termina o seu segundo feitiço enfraquecendo ainda mais a criatura e entra no quarto, desembainhando a espada para a atacar. Sérgio acompanha-os mas grita a Jérôme que lhe atire o corno da pólvora. Abrindo o corno, Sérgio atira pólvora sobre a criatura e com o tição largado por Jérôme pega-lhe fogo. Uma bola de fogo envolve a criatura que se debate com dor. Os três heróis correm para o exterior, temendo que a criatura pegue fogo à casa.

Para seu terror, a criatura queimada e com a cara cadavérica deformada pelo fogo, sai da casa. O fogo já se extinguiu mas causou danos suficientes para enfraquecer a criatura de tal modo que os três heróis conseguem terminar com a sua existência blasfema. Suspirando de alívio, regressam ao interior. Nathaniel lê o diário do Dr. Cortez que esclarece toda a história: há anos atrás, o médico perdeu a sua mulher, vítima de doença. Desgostoso e nunca recuperado, deixou-se dominar por uma obsessão que o levou a abusar da sua posição como médico para descobrir uma maneira de trazer os mortos à vida. Pagando bem caro por um livro secreto, o doutor trabalhou afincadamente durante anos até que os seus estudos atrairam a atenção das pessoas erradas e ele foi obrigado a mudar de nome e a fugir. Aqui, em Las Cruces, longe de todos, continuou os seus estudos enquanto cultivava a amizade dos aldeãos. Finalmente recriou a sua amada mas a experiência não resultou como puderam testemunhar os três heróis. Com o raiar do dia, os três heróis deitam fogo à casa destruindo assim todas as provas.

2 comentários:

  1. Olá. Descobri este blog na semana passada, e estive a lê-lo de fio a pavio.
    Queria somente deixar algumas palavras de incentivo, e apreço, pois estou a gostar muito.
    Apesar de não ser fã de Solomon Kane - embora seja viciado em R. E. Howard - estou a gostar bastante do ambiente das aventuras, e a tua escrita - Dwarin - é muito apelativa e estimulante.
    Espero que continues o bom trabalho, pois eu vou tentar seguir as novidades por aqui.

    - Psygnnosed

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  2. Obrigado. É sempre agradável saber que alguém que não do meu grupo gosta de ler o blogue. Significa que parte da atmosfera das nossas sessões passa para a minha escrita.

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