terça-feira, 21 de abril de 2009

O Pacto


Corre o ano de 1610. Três aventureiros atravessam uma região inóspita no nordeste de Espanha: Jérôme d'Alembert, antigo soldado do Rei Henri IV de França, um espadachim ainda envergando a farda do exército; Elena, uma jovem mulher disfarçada de homem e Sérgio Lázaro, um jovem atraente, muito bem cuidado e de bigode aparado.

A noite está prestes a cair e levanta-se um ar frio. A poucos quilómetros de distância encontram uma velha estalagem de aspecto pouco acolhedor, La Águila Roja. O interior é escuro e bafiento e o estalajadeiro pouco hospitaleiro. Apesar dos quartos terem pouco mais do que uma cama, os heróis preferem um tecto sobre a cabeça do que uma noite ao relento. A região é perigosa, adverte o estalajadeiro, roda por ali uma criatura que aterroriza os aldeãos. Esta notícia desperta a curiosidade de Jérôme, aventureiro por natureza. O estalajadeiro pouco mais sabe, apenas que a criatura raramente foi vista e vive nos bosques. Talvez na aldeia mais próxima, Madrigala saibam mais.

No dia seguinte, os três heróis partem em direcção a Madrigala. O sol brilha palidamente e o frio mais intenso fustiga as áridas encostas da Sierra de la Culebra. O trilho serpenteia por vales rochosos até à aldeia. Mas algo não está bem. O silêncio é demasiado pesado e uma aura de perigo toma conta dos heróis. A visão que os espera ao transpor o cume do monte é dantesca: por entre as ruínas fumegantes das casas, jazem os corpos ensanguentados e mutilados dos aldeãos. Nada foi poupado: aqui uma mulher morreu a proteger o bebé nos braços, ali um rapaz foi trespassado por um pique contra uma porta, acolá um grupo de cabeças foi barbaramente impalado em estacas de madeira.

Por entre os escombros ouvem um gemido. Um homem corpulento e musculado jaz numa poça de sangue, com um golpe horrendo na cabeça. É tarde demais para o salvar mas com o seu último fôlego, o homem diz ser o ferreiro da aldeia. Esta manhã, conta, um grupo de homens armados desceram sobre Madrigala. Eram liderados por um homem alto e vestido de vermelho que dizia ser o filho de Satanás. Com a fúria dos infernos, mataram todos até ao último homem, mulher e criança. O ferreiro tentou defender a mulher e a filha mas foi subjugado. Antes de perder os sentidos, viu o demónio de vermelho agarrar na filha, Magda, e levá-la consigo. O homem pede aos heróis que a salvem antes que algo lhe aconteça. E, dito isto, solta um último suspiro e morre.

Jérôme sente o seu coração a pulsar de raiva. Sem hesitar parte no encalce dos bandidos seguido pelos seus companheiros. Em breve embrenham-se na floresta, longe de qualquer trilho. Os bandidos não se preocuparam em esconder o seu rasto, confiantes que ninguém ousa segui-los. Mais adiante, ouvem vozes. Aproximando-se cuidadosamente, os heróis encontram um grupo de quatro homens, armados. Pelo aspecto das roupas e das armaduras de couro parecem ser mercenários. Falam Alemão. Ao que parece, desertaram do grupo de bandidos, cansados de seguirem um louco que se intitula filho de Satanás. Aproveitando o elemento de surpresa, os heróis confrontam os bandidos.

Embora Sérgio tente chegar a uma solução pacífica, os quatro homens não se deixam capturar impunemente. Disparam as suas espingardas que ecoam como um trovão. Sérgio salta para trás de uma árvore, aproveitando o facto do seus dois companheiros distrairem os bandidos para se aproximar por detrás. Jérôme assume a sua pose de ataque, confiando no seu treino militar. Elena segue-o de perto. Os dois heróis caem sobre os mercenerários. Embora os homens sejam veteranos de guerra, Jérôme ferve de raiva. Com um golpe fulminante, um dos mercenários cai por terra. Vendo o seu companheiro esvair-se em sangue, os restantes depõem as armas. A sua vida é mais importante do que morrer por uma causa inútil. Os heróis amarram os mercenários a uma árvore e ficam a saber que o grosso do grupo, liderado pelo infâme bandido de vermelho, continuou a sua caminhada para Norte. Levam com eles a rapariga chamada Madga. Enquanto Sérgio cuida dos ferimentos dos homens, Jérôme obriga os bandidos a jurar que partem sem mais problemas.

Logo após, os heróis seguem na peúgada dos mercenários. Ao cair da noite, aproximam-se do grupo que está acampado junto a uma escarpa, em redor de uma lareira. Avaliando a situação, os três heróis apercebem-se que, apesar de numericamente inferiores, podem tirar partido da situação. Muitos dos mercenários estão distraídos, obviamente confiantes que não foram seguidos. Dois homens estão junto do seu líder, o filho de Satanás, que está sentado numa rocha junto de uma rapariguinha amedrontada, Madga. Os mercenários bebem, comem e riem. Alguns já estão inebriados.

Por alguns momentos, os três heróis planeam o que fazer. Apesar de tudo, um passo em falso pode significar a morte da rapariga cuja vida não tem valor para estes homens. Jérôme propõe entrar no acampamento sozinho e desafiar o líder para um duelo, distraíndo os mercenários enquanto os outros salvam a rapariga. Sérgio e Elena opõem-se. Consideram o plano uma loucura. Optam então por outra estratégia. Usando as espingardas que confiscaram aos mercenários na floresta, Sérgio e Elena escondem-se em pontos estratégicos. Jérôme fingirá pertencer a um destacamento de homens enviados para capturar os bandidos. Talvez os mercenários sejam apanhados de surpresa e caiam no engodo.

Assim, com um grito, Jérôme surge sobre o cume da depressão, enquanto Sérgio e Elena disparam alguns tiros. Os bandidos estão cercados, diz Jérome, pelos guardas do rei de Espanha. Apesar da surpresa inicial, os homens estão bem treinados e pretendem vender cara a sua pele. Usando Madga como refém, obrigam Jérôme a render-se. Sérgio acompanha-o mas Elena não se deixa descobrir e dá a volta para a parte de trás do acampamento. Cercados pelos mercenários, Jérôme e Sérgio são escoltados à presença do seu líder, um homem alto e atraente, mas com um sorriso repelente. Segurando Madga pelo braço, ameaça os dois heróis. Nesse instante, soa um tiro. Elena tenta rebentar os miolos do líder dos mercenários mas falha. Segue-se um momento de confusão que Jérôme aproveita. As suas lâminas fulminam os mercenários mais próximos. O líder, o suposto filho de Satanás, recua com Madga mas Jérôme corre atrás dele, defendendo-se dos golpes dos mercenários, abrindo caminho aos empurrões. Elena corre para longe, seguida por um grupo de homens.

Finalmente encurralado, o filho de Satanás defende-se. A visão daquela rapariga indefesa, maltratada nas mãos daqueles homens, apodera-se de Jérôme. Com raiva incontida, ataca o líder. O sorriso dele desvanece-se. Em vez disso, a sua expressão é de fúria e finalmente de surpresa quando trespassado pela lâmina de Jérôme. Com o seu líder morto, os mercenários acabam por debandar. Homens cuja única motivação é o dinheiro cedo perdem a vontade de lutar quando confrontados com uma vontade superior à sua. Naquele momento, Madga abraça-se a Jérôme e agradece a boa providência que os trouxe ali. Sem mais delongas, os três heróis partem daquele local. Alguns dias depois, deixam Madga ao cuidado de freiras num convento próximo e partem para parte incerta.

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